Introdução a Psicoterapia-Ericksoniana
Psicoterapia Ericksoniana

Introdução a Psicoterapia-Ericksoniana


A psicoterapia Ericksoniana é uma abordagem feita sob medida para cada tipo de paciente, focada na solução do problema e baseada na utilização de tudo aquilo que o paciente traz inclusive a resistência à sua própria melhora.

O Dr. Milton H. Erickson, psiquiatra americano (1901/1980), introduziu a utilização de uma abordagem naturalista (a natureza do problema), contando estórias, aplicando técnicas de hipnose e levando o paciente a se libertar dos conflitos emocionais.

O trabalho de Erickson começou naturalmente ao longo de sua vida. Ele era especialmente diferente! Contam que uma vez, nos arredores da fazendinha onde morava, ele andava a pé com alguns amigos, quando viu um cavalo passando a galope perdido. Ele pegou o cavalo, subiu em cima dele a pêlo e disse aos colegas que o levaria de volta à sua casa. Os colegas duvidaram e perguntaram como ele faria isso, como devolveria o cavalo à fazenda de onde ele viera? Ele respondeu que bastaria mantê-lo na estrada, sem deixá-lo pastar nas gramíneas, que ele voltaria naturalmente. Foi exatamente o que o cavalo fez. Erickson manteve-o em curso e ele mesmo encaminhou-se ao seu verdadeiro destino.

A psicoterapia focada na solução do problema tem este mesmo princípio. Todo conflito (problema) é uma tentativa natural da busca de cura. Se seguirmos o que o problema procura e dermos um caminho melhor, mais seguro e sem conflitos, com certeza a mente vai preferir!

Este é o trabalho da Psicoterapia Ericksoniana. Busca-se entender o que o sintoma quer dizer e que naturalmente está buscando alívio de conflitos subjacentes a situações paradoxais da mente, ou seja, tentar obedecer a ordens contraditórias simultaneamente. Por exemplo: uma mulher que procura a terapia porque não tem orgasmos. Através da avaliação, percebe-se que o sintoma libera a paciente de “fazer amor”. O caminho será ensiná-la a ter orgasmos ou fazê-la observar o que seu sintoma lhe diz? No fundo, a verdadeira necessidade desta mulher é sua libertação do parceiro, que por alguns motivos pessoais, ainda não está preparada para uma possível separação e utiliza como sintoma a separação de corpos.

No nosso tipo de trabalho ficamos atentos ao verdadeiro caminho do sintoma, a natureza daquele paciente e procuramos fazer a terapia sob medida, buscando caminhos que levem à verdadeira essência do melhor para o alívio do sofrimento.

Erickson era habilíssimo no uso da terapia estratégica e da hipnose, contando estórias, fazendo confusão mental, induzindo hipnose abria caminhos novos para a solução dos problemas.

Psicoterapia Ericksoniana

A partir dos anos 80, iniciou-se a abordagem ericksoniana. É uma terapia estratégica, mais rápida em suas respostas e que se trabalha com indução de hipnose e a utilização de metáforas, de uma forma indireta.

O primeiro ponto é falarmos um pouco sobre hipnose:

Conceito de hipnose

Este é um conceito muito polêmico, com muitas afirmações diferentes. Como é algo não palpável, o conceito também se torna um tanto abstrato. Há vários tipos de referências para se falar de hipnose, mas num contexto geral, como se trata de um pequeno capítulo mais informativo que formativo, darei uma versão simples.

Hipnose é um estado alternativo de consciência aplicada, onde o sujeito permanece acordado todo o tempo, mas experimenta sensações, sentimentos, imagens, regressões, anestesia, parestesias e outros fenômenos hipnóticos enquanto está neste estado.

Na prática terapêutica da hipnose, você pode usar métodos tradicionais de induzir a hipnose, ou utilizar das características pessoais de cada sujeito e de cada problema para criar técnicas inusitadas.

Utilizar os padrões pessoais de cada um ajuda eliciar uma hipnose natural, quase espontânea, e é muito melhor do que obrigar o sujeito a se submeter às técnicas tradicionais de hipnose, ou se submeter às sugestões limitadas do hipnoterapeuta em sua visão do problema. As falhas na terapia hipnótica e no trabalho experencial vêm exatamente de achar que o paciente vai reagir como um expectador que executa comandos de acordo com os entendimentos do hipnoterapeuta, e não reconhecendo o sujeito com sua personalidade e seus padrões pessoais de resposta e comportamento. (Veja Erickson, 1980, Collected Papers, vol. III, p. 22).

O mais importante é criar uma terapia e também uma técnica hipnótica única para aquele sujeito e para aquele problema. Isto é o que chamamos de conceito de UTILIZAÇÃO.

Na prática da hipnose terapêutica, mesmo usando técnicas já prontas de indução da hipnose, o terapeuta, querendo ou não, vai já realizar a utilização daquilo que o paciente traz. Uns pacientes gostam de relaxar, outros preferem imaginação ativa, outros preferem que se contem histórias, e assim o terapeuta, ao introduzir a hipnose, vai costurando sob medida tudo que melhor couber no paciente, para mostrar novas saídas àquilo que lhe traz sofrimento.

Na abordagem Ericksoniana, o terapeuta trabalha para fazer aparecer (eliciar) recursos do paciente, mais do que autoritariamente programar sugestões numa pessoa supostamente passiva.

Você pode fazê-lo colocando alguns detalhes durante a indução, como as técnicas de:

1) Ratificação – onde apenas mostramos que o sujeito já está reagindo diferente. Ex.: “e na medida em que fui falando sua respiração já mudou...”

2) Atribuição – ela assinala e adiciona significados novos que geram novas alternativas para o sujeito. Ex.: “Você está balançando sua cabeça diferente agora, porque sua mente inconsciente tem sua maneira própria de concordar...”

3) Prescrição de sintomas – prescrevendo o sintoma o terapeuta encoraja o comportamento sintomático e então subdivide em pequenas partes, modela de maneira diferente de uma forma mais desejada ou adaptada. Zeig conta sobre sua mania de bater dedos como Erickson aproveitou de sua hiperatividade e já o colocou em transe através de seu sintoma (bater dedos) em sua primeira visita ao Dr. Erickson... Dizia ele: “E você pode bater seus dedos mais rapidamente. E na medida em que você bate seus dedos, observe o ritmo do movimento”.

4) Incorporação – você pode e deve incorporar qualquer coisa inusitada que aconteça no ambiente, adaptando um novo sentido que ajude no trabalho terapêutico. Coisas da realidade como um bater a porta; um toque de celular inesperado ou uma sirene de ambulância, como alguma coisa nova dentro da indução hipnótica. Por exemplo, se a porta de repente se abre durante a indução, o terapeuta pode dizer algo assim: “... Você pode abrir construtivamente novas portas com a capacidade que sua mente inconsciente tem de guiar você para o melhor...”

5) Redefinindo hipnoticamente – a redefinição é uma excelente técnica que modifica o sentido congelado e negativo que a pessoa vem mantendo no padrão do sintoma. Por exemplo, se a pessoa relata um dos padrões do seu problema como “pressão” durante a indução, o terapeuta pode começar a orientar o paciente para a suave pressão de suporte do sofá que o sustenta neste momento e assim ele pode descansar suavemente do seu estresse.

6) Injunção simbólica – “se o paciente pode se comunicar simbolicamente, então eu posso igual e inteligentemente comunicar simbolicamente com o paciente. Ao invés de interpretar o simbolismo de sua conversa, eu posso usar o recurso simbólico construtivamente e criar símbolos terapêuticos”. (Erickson).

Por exemplo: durante uma indução, Erickson colocou a mão esquerda já hipnotizada de uma mulher sobre seu braço contrário. Nesta postura ela parecia estar abraçando a si mesma. E disse à paciente, como mensagem simbólica: “E você pode proteger a si mesma, você pode dar conforto a si mesma”. (Zeig, 1980).

Os princípios da utilização

O método principal da terapia Ericksoniana é utilizar tudo que o paciente traz com o seu sintoma e fazer a partir daí um trabalho de indução hipnótica, mostrando as possíveis transformações.

Para você poder aprender melhor, passarei a frente os princípios da utilização e mais tarde veremos como montar a psicoterapia ao modo de Erickson.

Princípio 1 – A indução do terapeuta vem primeiro.

A terapia começa com o transe do terapeuta e sua atenção flutuante ao ouvir seu paciente. Dessa maneira, fica mais fácil acessar construtivamente aquilo que “toca” mais seu cliente. Poderíamos dizer abrir a mente e o coração do terapeuta para fazer uma conexão mais profunda.

Princípio 2 – Tudo que o paciente trouxer pode ser utilizado. Qualquer coisa que aconteça durante a sessão pode ser utilizada.

Todos os valores do paciente podem ser usados, até mesmo a resistência do paciente ou seu próprio sintoma. São as melhores maneiras de abrir as portas dos pontos sensíveis do paciente. Ele já sabe resistir, ou fazer o sintoma. Nós aceitamos que ele o faça e vamos modificando o sintoma ou a resistência aos poucos.

Você pode ser perguntar, como meu paciente faz este sintoma? Repita o mesmo mecanismo modificando aos pouquinhos...

Princípio 3 – Qualquer técnica usada pelo paciente para ser paciente pode ser reutilizada pelo terapeuta.

As técnicas não vêm somente dos livros. Elas podem ser feitas a partir do estudo do comportamento do paciente. Por exemplo, se o paciente conta estórias, o terapeuta também conta estórias. Se o paciente é confuso como cliente, o terapeuta pode ser confuso construtivamente. (Veja Zeig, 1987).

Princípio 4 – Qualquer resposta que você obtiver, desenvolva-a.

Nem sempre os pacientes serão amáveis e responsivos à hipnose. Por vezes, não fecharão os olhos, não relaxarão o corpo, não seguram o modo de indução que vamos propor. Não importa o que ele faça como resposta, aceite e siga em frente... ficar de olhos abertos ajuda-o ver de uma maneira mais desfocada, por exemplo: ... você não precisa relaxar, mas preste atenção onde você está mais tenso... e assim por diante, aceitando e manejando seja lá o que vier do paciente como resposta. Ele não terá saída, estará te obedecendo!

Metamodelo da terapia Ericksoniana

Estabelecendo a meta da terapia – o que eu desejo comunicar ao meu paciente? Deve-se começar a terapia com uma meta a ser comunicada ao paciente.

1) Transformando o problema em processo – primeiro pensamos no problema, em seguida devemos transformá-lo num processo. Uma vez que você vê o problema como um processo sequencial, você pode criar muitas intervenções encadenciadas e assim ir mudando o problema aos poucos. O objetivo da psicoterapia será ajudar o paciente a modificar a sequência habitual de comportamentos que levam ao problema.

Por exemplo: se o paciente quer parar de fumar, e ele fuma tragando a fumaça para aliviar as tensões, ensinamos este paciente a puxar o ar, tragando oxigênio para aliviar ainda mais suas tensões. Vamos encadeando novas ideias que vão modificando o padrão do comportamento.

2) Podemos também dividir a solução em pequenas partes bem manejáveis. Por exemplo, seria impossível querer que alguém mude seus hábitos alimentares de uma só vez, mas podemos introduzir pequenas ideias e aos poucos termos o hábito totalmente modificado.

Embrulhando para presente

Quando o terapeuta já tem um componente importante para dar solução ao problema, uma meta que deverá seguir é necessário fazê-lo de forma indireta, como se estivesse dando ao cliente um presente maravilhoso. Você deve então oferecer a ideia como um presente. Assim você poderá usar a hipnose, ou o contar histórias ou jogos como um presente que leva à ideia que você deseja comunicar.

Costurando sob medida (tailoring)

É sempre bom dar um presente que vai agradar. Assim, nada melhor do que dar uma terapia sob medida. Fazer uma estória com a cara daquele paciente. Criar uma técnica de colocá-lo em hipnose que agrade aquele sujeito. Por exemplo: se a pessoa está muito desanimada ou deprimida, utilize uma técnica que descansa, um relaxamento.

O processo da terapia

Não é suficiente ter a meta, criar um embrulho de presente e individualizá-lo. Em adição, o terapeuta deve trabalhar para criar um processo, um drama, através do qual a meta da terapia vai ser oferecida. Esse processo envolve o tempo da terapia e uma linha sequencial de procedimentos, veja fig. 2, que envolve toda a estratégia da dinâmica psíquica do paciente e o envolve num caminho através do problema para a sua solução.

O terapeuta inicia com o diagnóstico, evoca a motivação e modela a responsividade do seu paciente em mínimas pistas.

Todo o tempo, o terapeuta tem em mente o que ele vai fazer como intervenção principal que poderá ser uma técnica hipnótica, uma prescrição de sintoma, uma estória a ser contada. E dá de presente uma solução embrulhada indiretamente na técnica, na estória ou na técnica hipnótica.

É neste ponto que vemos que o mais importante é ser criativo em criar novas possibilidades de se resolver o problema. O cliente apenas sabia fazê-lo através do sintoma. Era sua única saída. Mas aos poucos, vamos como terapeuta aprendendo o que o paciente procura como alívio para seus conflitos através do sintoma e vamos dar a saída modificando o caminho do sintoma como algo mais saudável.

Exemplo: o sujeito fuma para ficar calmo e pensar melhor. Sabemos que o cigarro agita mais do que acalma. Mas o cliente sente que se ele fumar (hábito) vai se acalmar. O que podemos é ensiná-lo a fumar oxigênio para acalmar e pensar melhor. O oxigênio limpa os pulmões, traz o ar fresco e novas inspirações e o sujeito pode fazê-lo como se estivesse fumando.

Como montar uma terapia sob medida

Agora, você poderá aprender um pequeno modelo estrutural que lhe ajudará a fazer uma terapia sob medida.

Este é o esquema que Jeffrey Zeig propôs para ajudar o principiante aplicar o metamodelo da terapia de Erickson.

Avaliação

Você fará uma primeira avaliação que constará de seis itens de investigação, e você poderá gastar em torno de 20 minutos. É uma avaliação já em forma de intervenção. Na medida em que você pergunta já induz o paciente a buscar novas respostas e novos caminhos de saída para o problema abordado.

1) Qual é o problema? Peça um relato completo do problema. Fique atento, pois você irá redefinir o problema com alguma saída.

2) Analogias – veja que tipo de analogias o paciente traz sobre seu problema. Contam-se estórias, se usa palavras metafóricas.

3) Mecanismo do problema – peça uma descrição detalhada de como o paciente faz o problema X, passo por passo. Você utilizará estes passos na indução da hipnose, injetando vírus no padrão de fazer o problema X. Daí para frente se tornará algo diferente de X. Se mudarmos alguma coisa no problema X, você pode fazê-lo desaparecer também.

4) Quais os valores deste paciente? Ele valoriza família, ou dinheiro, ou ter saúde, ou a inteligência? Você deverá utilizar dos valores do paciente para criar rapport e fazer uma boa conexão com seu paciente.

5) Tentativas de solução do problema – quais as tentativas já feitas para solucionar este problema? É importante que você saiba o que já foi feito sem resultado e avalie o que não deu certo.

6) Relações familiares / sociais – este problema faz referências a familiares, ou pessoas das relações sociais do seu paciente? Que tipo de interferências você precisa manejar para limpar o problema?

Após ter feita esta pequena avaliação, você está apto a montar uma terapia sob medida.

O processo

1) Redefinir o problema – em apenas uma frase, que o paciente possa apreender bem, redefina o problema dele. Por exemplo: ele vem dizendo que o problema é obesidade. Isto é uma palavra estanque, de difícil mudança, já estereotipado que é difícil emagrecer. Mas observe bem e veja o que causa obesidade neste sujeito. Por exemplo, diga “vejo que seu problema é muito mais ansiedade do que qualquer outra coisa...”. Assim, o problema se torna um processo, como processo está todo tempo se modificando.

O importante é dizer uma frase simples e que nela contenha uma afirmação de processo, para que possa ser feita alguma mudança durante esta sessão e já fazer alguma mudança.

2) Semeadura – conte estórias semelhantes ao problema do seu paciente já focando saídas. Se for o exemplo acima, diga algo como “... já vi pessoas que aprenderam a lidar com a ansiedade e aquela fomezinha foi passando....” ou “... tive uma amiga que numa fase da vida ficou muito ansiosa e comia por pura ansiedade, ao invés de fazer regime ela preferiu atacar o problema que causava tanta ansiedade, e tudo se resolveu...”.

3) Faça uma indução hipnótica passo a passo, utilizando as palavras do cliente, redefinindo-as positivamente e utilizando o mesmo caminho do sintoma. Você pode subdividir os passos do mecanismo do sintoma e reutilizar as mesmas palavras que têm uma conotação negativa de uma forma positiva, e assim você vai introduzindo a hipnose por um leito já aberto pelo sintoma. A diferença é que você mostra uma forma positiva de usar este caminho já conhecido.

Por exemplo, se o paciente diz que tem medo de avião e se “agarra” à cadeira, você poderá dizer “... você pode se agarrar no bem estar deste sofá...”. Ou se o sujeito fuma e diz que cada “tragada” lhe acalma, diga para ele “tragar” em cada respiração o oxigênio puro que leva, além de saúde, muita paz a todas as suas células....

4) Faça a intervenção principal – aqui você pode usar os fenômenos hipnóticos que aparecem no seu paciente como anestesia, visualizações ativas, regressão, distorção de tempo etc. Ou mesmo contar metáforas utilizando as analogias que o paciente trouxe, ou prescrever o sintoma modificando algum detalhe que fará toda a mudança. Sempre acrescentem nas estórias contadas os valores do paciente.

5) Utilize a sugestão pós-hipnótica – é aquela sugestão dada durante esta hipnose e que vai funcionar ao longo do dia a dia do paciente em determinadas ocasiões como uma dica mínima de mudança, e com isto o paciente modifica as etapas da fabricação do seu sintoma. Com isto vamos sutilmente modificando o aparecimento do sintoma.

6) Retirá-lo da hipnose.

Técnicas de hipnose

A indução hipnótica baseia-se na absorção da atenção do paciente, focando seu pensamento e as sensações no âmbito dos cinco sentidos. Conversando uma conversa calma, pausada e bem focada naquilo que o paciente consegue ficar absorvido, você faz uma indução hipnótica.

Há pessoas que são facilmente hipnotizáveis. Elas já se deixam levar por uma voz suave, por um ritmo de respiração agradável, por uma música suave, ou por um relaxamento. Há outras pessoas que são hiperativas, ou muito agitadas. Não dá para induzi-las ao transe através de um relaxamento, ou de uma técnica de respiração. Primeiro é preciso fazer uma abordagem sob medida. Se o paciente gosta de ouvir estórias, conte estórias. Se o paciente observa muitos detalhes, coloque muitos detalhes na indução.

O importante é saber que todo mundo entra em transe. A hipnose é um estado de ampliar a consciência. Um atleta correndo pode entrar num estado de transe e ter maravilhosos “insights” enquanto corre. Ele conversa consigo mesmo. A hipnose nada mais é do que um estado acordado de consciência ampliada e voltada para dentro de si mesmo.

Portanto, quando você for utilizar a hipnose com seus pacientes, é preciso aprender a ver como é a atenção deste paciente. Se ele for um sujeito focado, foque em alguma absorção única (a cor do mar, a respiração, o relaxamento dos músculos etc.). Se ele tiver uma atenção difusa, procure dar muitos estímulos.

Se realmente você tiver interesse de aprender a fazer sob medida, aos poucos você vai aprendendo técnicas e vai modificando-as para caber exatamente no seu paciente.

Temos bons livros como “A Terapia feita sob medida”, um seminário de Jeffrey Zeig, editado por Teresa Robles. Muito bom para dar-lhes estes ensinamentos.

Neste pequeno capítulo, vou dar-lhes uma noção geral de como montar uma indução e passar-lhes algumas técnicas bem simples de indução da hipnose. Juntando com o que você já aprendeu a fazer a terapia sob medida, você poderá iniciar bons aprendizados na hipnose Ericksoniana.

Esqueleto geral da hipnose

1) Absorção da atenção

Utilize linguagem permissiva:

• Você pode ir me ouvindo agora – Pressuposição;
• Enquanto sua respiração vai se abrindo – Yes set;
• Você pode ouvir minhas palavras;
• Você pode ouvir os barulhos da sala;
• Você pode ouvir o som da sua respiração;
• Enquanto sua mente mais profunda pode ir mais profundamente;
• Talvez você sinta seu corpo se acomodando;
• Talvez você sinta seus pés se apoiando no chão;
• Talvez você sinta suas costas se acomodando;
• Mas sua mente inconsciente já pode ir se acomodando mais profundamente – No set;
• E aos poucos sua mente inconsciente vai me ouvindo;
• Enquanto sua mente inconsciente pode pensar coisas mais interessantes sobre você – Duplo vínculo.

2) Ratificação

• Enquanto você está me ouvindo já percebo em você algumas mudanças...
• Seu pulso mudou
• Seu semblante está mais suave
• Sua respiração está mais calma

3) Eliciação

• E agora. você pode imaginar _________.
• regredir _________.
• Ter uma linda imagem de um lugar agradável
• etc...

A indução é construída numa linguagem permissiva com conteúdos sugestivos de aprofundar para dentro de você.

Alguns pacientes levam minutos (2 a 5 min.) para entrar em transe, enquanto outros levam de 15 min até 1 hora. Veja como é tudo muito variável. Vá aprendendo a fazer a indução na medida do seu paciente.

Vou passar agora alguns modelos de indução já pré-montados. Claro que a hipnoterapia de Erickson é única para cada cliente e você terá que fazer adaptações, e até mesmo mudanças radicais ou criar uma indução nova para cada paciente que você atender. É como uma cozinheira aprendendo a fazer uma massa de bolo simples. Aos poucos, ela vai saindo da receita básica, incrementando com novos ingredientes, vendo o que agrada mais a cada freguês.

Indução do Lugar Seguro

Costumo ensinar ao meu cliente que a hipnose é um estado contemplativo interior. Que podemos alcançá-lo de várias maneiras, e uma maneira muito agradável é você imaginar um lugar que você adora.

Por exemplo, eu adoro o mar! Nasci na praia e fui criada numa casa a beira-mar... ver o mar bem azul, em momentos de maré baixa, no verão, com um céu num tom azul turquesa forte, as águas batendo na areia docemente, o vento gostoso que traz o ar de maresia, coqueiros e castanheiras balançando, alguns pássaros cantando... com sorte até algum sabiá.... quem sabe na praia de espelho... lá no sul da Bahia, onde o mar é como espelho de águas mansas, quente e gostoso de mergulhar... tão transparente que você pode ver os recifes e os pequenos peixinhos passando... ao longe, vendo o mar azul, esverdeado, claro, escuro... coqueiros... falésias... Tudo tão lindo e harmonioso, parece que a mão de Deus abençoa quem ali está... quer lugar mais seguro para o seu descanso... a mente se entrega a esta cena... seu corpo se entrega a um delicioso mergulho nestas águas mansas... boiando com sua imaginação... lavando a alma e todos os sentimentos... é como um programa de proteção de tela... alguns segundos... sua imaginação ativa a palavra mágica... praia de espelho!... pronto! A auto proteção acontece!

Então, que tal agora, imaginar o lugar que você prefere... algum lugar que a sua imaginação crie, ou se lembre... que neste momento apareça em sua imaginação e que você pode para lá se transportar... vendo cada detalhe... soltando-se mentalmente para curtir como se você lá estivesse... sentindo um agradável bem estar... uma gostosa sensação de conforto... e tudo dentro da sua mente vai se acalmando... e você mais e mais profundamente vai entrando para dentro deste lugar aconchegante, protegido... e por alguns minutos você pode ir desfrutando de um bem estar maravilhoso... e vai revigorando protegidamente seu bem estar... Fique por algum tempo aí neste lugar aproveitando para deixar sua mente livre e quando você se sentir revigorado vá voltando devagarzinho para cá... trazendo deste lugar seguro toda calma e paz que você precisa no seu dia a dia... nada mais gostoso que poder parar por alguns instantes em pequenas ilhas de prazer e descansar sua mente!

Indução da Respiração Saudável

Quando estamos muito ansiosos ou angustiados, a respiração fica curta e ineficaz. Por vezes, suspiramos nos momentos mais tensos. Nada melhor do que usar da sua própria respiração para induzir o transe da hipnose. Todo mundo respira e melhorar a respiração ajuda a todo mundo. Portanto, usar as técnicas de respiração para colocar seu paciente em transe é muito bem vindo.

Você pode começar falando sobre a angústia, palavra que significa peito apertado...

... Nada melhor do que parar por um momento e deixar o pensamento fluir... apenas feche seus olhos e deixe sua respiração correr em ritmo bem natural... não force nada... apenas observe você respirando... observe o ritmo da respiração... observe o ar entrando e saindo... e aos poucos tudo vai se acomodando saudavelmente dentro de você... a respiração é importantíssima! Além das trocas gasosas, levando o oxigênio... saudável a todas as suas células... retira o corpo o gás carbônico e as toxinas... mas além disso... tem outra função (de acordo com Teresa Robles), a função de digerir a emoção!... Você já reparou que falamos assim... espera um minutinho, me deixa tomar fôlego!... pois então, é hora de você respirar o oxigênio e digerir emoções presas lá dentro de você... enquanto você inspira o oxigênio... vai soltando protegidamente as dores... os dissabores... vai abrindo seu peito... deixando o oxigênio, a saúde ir entrando agradavelmente aí dentro de você... e como é gostoso poder fechar os olhos e abrir a mente... abrir sua respiração nesta troca saudável e tranqüila... e aos poucos você pode ir soltando seu corpo... descansando sua mente... sentindo sensações agradáveis só a você e se deixar ir mais e mais profundamente numa agradável sensação de paz e bem estar...

A partir deste ponto você pode continuar esta indução eliciando fenômenos hipnóticos. Como por exemplo, pedindo uma anestesia ou analgesia; ou regredindo seu paciente a algum momento traumático que necessita ser trabalhado; ou usando técnicas de imaginação ativa de Epstein; ou contando metáforas que façam alguma comunicação indireta.

Todo o tempo, você pode enxertar palavras permissivas como... você pode ir aprendendo... você pode ir mais e mais profundamente para dentro de você... você pode escutar sua mente mais profunda e sábia... você pode descobrir novos significados/saídas para isto que você está vivendo... você pode ir desfrutando e aprendendo mais e mais ao ouvir esta estória ou fazendo este exercício...

Assim, aos poucos, você pode ir modelando a hipnose de acordo com o jeito de o seu paciente entrar em transe. Você também pode ir induzindo a hipnose, apenas usando a linguagem hipnótica permissiva. Você pode ir falando ora da respiração, se o paciente for mais ansioso; ora do relaxamento se o paciente for mais calmo ou estiver mais deprimido, ora de um lugar seguro para distrair a mente. Deste modo, você leva naturalmente seu paciente ao estado de atenção mais interna sobre ele mesmo, que nós chamamos de hipnose.

O seu próprio paciente vai lhe dizer o que ele preferiu mais e você pode ir criando, a cada sessão, alguma novidade no modelo preferido desta pessoa.

Você irá encontrar muitos livros interessantes que lhe dão muitas técnicas hipnóticas para você utilizar como indução de transe. Mas lembre-se, apenas para induzir a hipnose neste sujeito! O principal, a terapia sob medida, é única para cada pessoa e seu problema. A partir do momento em que o cliente já está em estado de hipnose, você começa a trabalhar a liberação dos traumas, o sintoma, a dor, seja lá o que for.

Neste ponto, entra aquele esquema de terapia sob medida que vimos anteriormente. Temos técnicas mais avançadas para trabalhar com traumas como as técnicas de regressão, de palco e conversação ativa com as pessoas que causaram o trauma, técnicas de perdão, de imaginação ativa do futuro que você também achará nos livros de psicoterapia Ericksoniana.

Por hora, é importante dizer que a terapia vai enfocar o sintoma e aonde o sintoma quer chegar – a solução de um conflito. Vamos dar um caminho mais saudável, adulto de lidar com situações traumáticas.

Todo ser humano passa por momentos difíceis, ainda quando criança e não tem a habilidade para sair de situações do gênero. Acaba por adotar maneiras infantis de lidar com conflitos e tornam-se “crenças limitantes”. Sempre que aquele tipo de situação aparece, mesmo já adulto, se reage como a criança interior. Ela tem lá dentro, um sistema de alarme que é ativado toda vez que o gatilho é disparado. Só sabe responder da forma que a mente infantil respondeu há anos atrás.




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